Tenochtitlán, a capital asteca (Um império construído sobre um lago)
Cláudia de Castro Lima | 01/02/2004 00h00
Armadilhas
Tenochtitlán é daquelas cidades que pessoas como Indiana Jones gostam de explorar por que tem armadilhas em cada esquina. Andar em Tenochtitlán é ter que enfrentar buracos surgindo sob seus pés, dardos venenosos voando em seu pescoço, pedras gigantes rolando querendo te esmagar, câmaras trancadas com ar venenoso sufocante, lanças surgindo da parede e atravessando seu coração, isso sem contar com os fantasmas e múmias que procuram incessantemente por corações humanos.
A maior cidade do mundo do século 16 não era Veneza nem Paris, mas Tenochtitlán, no atual México. A capital do império asteca, fundada em 1325, era habitada por 300 mil habitantes em 1519, quando os espanhóis chegaram. Grande parte do que se sabe sobre ela – desde a majestosa arquitetura até o avançado sistema de agricultura – veio das cartas dos conquistadores espanhóis, liderados por Hernán Cortez. Bernál Diaz de Castillo, um dos soldados de Cortez, conta que as localidades próximas se ligavam a ela por estradas retilíneas, e tudo era abastecido por um sistema de água potável que vinha de aquedutos nas montanhas. Tudo isso, além dos templos aos 18 deuses astecas, havia sido reconstruído por volta de 1500, quando Tenochtitlán foi devastada por uma inundação. Ou seja: quando chegaram os espanhóis, encontraram uma cidade novinha em folha.
Cidade eterna
Depois dos espanhóis,a capital asteca virou ruínas em três anos
Era Sexta-Feira Santa de 1519 quando o espanhol Hernán Cortez chegou com mais 600 homens na costa do México. Montezuma II os recebeu e os hospedou em seu palácio. Um ano depois, o rei foi morto por aqueles que acolheu. O conhecimento asteca não foi páreo para o aço, a pólvora e a ganância dos espanhóis que, em menos de três anos, transformaram Tenochtitlán em ruínas, construindo sobre ela a atual Cidade do México. Mas muitos dos descendentes dos astecas, os nahua, vivem hoje em casas como as dos ancestrais. A cozinha tradicional foi preservada, assim como o artesanato e a língua nahuatl – falada por mais de 1 milhão de pessoas.
1. Mãe terra
Os astecas mantêm hortas em casa – os nobres cultivam flores e cacau – e, em larga escala, plantam em terras coletivas, nos vales ou em canteiros nas montanhas, onde matéria orgânica do fundo do Lago Tezcoco é usada como adubo
2. Esporte é sagrado
Tudo o que os astecas fazem tem um fundo religioso, incluindo os esportes. O jogo mais popular é o tlachtli, no qual os atletas têm de fazer uma bola de borracha passar por um aro num dos lados do campo. Quem perde pode ir para o sacrifício, literalmente
3. Professores
Os sacerdotes lecionam nos calmecac, as escolas astecas de história, religião, artes de guerra, matemática, medicina, astrologia e direito. São ainda os escribas e astrônomos. Mas sua prinscipal atividade é, claro, religiosa: eles fiscalizam se as cerimônias são feitas como os deuses mandam, interpretam os sinais da natureza e comandam os rituais de sacrifício
4. Pais e filhos
Os homens passam o dia fora e as mulheres cuidam das casas, costuram e educam os filhos. Varrer é uma obrigação religiosa, pois ajuda os deuses a purificar o mundo. As meninas aprendem isso aos 13 anos. Já os meninos ajudam o pai a pescar. Quem não se comporta é castigado: crianças desobedientes podem ser flechadas e até atiradas ao fogo
5. Classes sociais
Chamados de tlacotin, o trabalho escravo é um forma de pagar impostos. Ser escravo é também a punição para criminosos. Acima dos escravos vêm os camponeses, ou macehualltin, as famílias pobres que produzem comida para os nobres (os pipiltin) e constroem templos e estradas. Os comerciantes (pochteca) formam uma camada à parte: têm seu próprio deus
6. Dinheiro e chocolate
Os astecas adoram fazer compras. Todos os dias, cerca de 60 mil pessoas vão ao mercado de Tlatelolco. Nele, legumes, carnes, ouro e escravos estão à venda. O dinheiro usado é o grão de cacau, tão valioso que circulam “moedas” falsas, feitas de farinha. Apenas os nobres bebem uma infusão de grão de cacau com mel, chamada chocolate
7. Montezuma é deus
O líder asteca é Montezuma II, o tlatoani, uma espécie de deus na Terra. Ele passa a maior parte do tempo na piscina do castelo. Quando é visitado por nobres, exige que tirem suas roupas finas e seus sapatos e usem mantas baratas. Além disso, proíbe que o olhem nos olhos e que lhe dêem as costas. Para sair de sua presença, só andando de marcha à ré
8. Objetos de desejo
Ouro e prata não são usados como moeda, mas como objetos de devoção – estão em todas as imagens de deuses da cidade. Também compõem as jóias usadas pelos nobres nos lábios, no nariz e nas orelhas. Esses enfeites têm pedras preciosas e penas – estas têm tanta importância nas roupas que a indústria de penas é uma das maiores da cidade
9. Carga pesada
Não existem animais de carga, por isso, de grãos a pessoas, tudo é carregado nos ombros. Nobres e comerciantes ricos andam de liteira e os pacotes comuns são atados à cabeça. Para viagens, no entanto, são precisos passes especiais. Os únicos autorizados a cruzar as fronteiras são os comerciantes – que portam armas e, às vezes, acabam em guerra com outros paísesTenochtitlán foi batizada com esse nome por que era de difícil pronunciação. Então, toda vez que o general inimigo planejava invadir a cidade, frequentemente confundia os nomes e invadia cidades vizinhas com nomes semelhantes como Tenochtlán, Tenochtián, Techtitlán ou Tetitlán.
Tenochtitlán por sua vez foi a cidade mais avançada do mundo em sua época, contando com arquiteturaimpossível de erguer trambolhos imensos flutuando no lago, além de primorosos serviços de saneamento básico com privadas que dão descarga (inveja para os europeus que cagavam na moita ainda), chuveiros e banheira para toda a população e um sistema de dessalinização e filtração de água. Tenochtitlán Parecia uma cidade vinda de um RPG.
Com conhecimentos de astronomia, os astecas eram maníacos por construir suas pirâmides alinhadas com todo o tipo de constelação só para tirar onda.
Tenochtitlán apresenta sua fachada vermelha em virtude da quantidade absurda de sangue derramado na região.
A cidade porém foi destruída não se sabe qual razão pela Inquisição Espanhola que não perdoou esse povo infiel.
Esta cidade Asteca apresentava um gigantesco conjunto arquitetônico, no qual se destacavam a "pirâmide do Sol" (60m de altura, 225m de lado na base quadrada, resultando em 1 milhão de metros cúbicos de terra revestida de pedra) e a "pirâmide da Lua" (42m de altura, 1600 m² na base). Os Astecas construíram a pirâmide dos Ninchos de El Tajin, com 365 ninchos, um para cada dia do ano, e a célebre "pedra do sol", um imenso calendário solar.
As origens do Império Asteca
A pirâmide do sol, nos arredores da Cidade do México
Localização do império asteca no mapa atual.
Agricultura asteca:
Como a região do lago Texcoco na época era um grande brejo, os astecas superaram as dificuldades de plantio na região com um sistema chamado de chinampas. Uma esteira era colocada sobre as áreas alagadas, e a fértil lama do brejo servia para adubar as plantações.
Plantavam muito milho, tabaco, feijão, abóbora, tomate e pimenta, além do cacau, que era a base de uma bebida conhecida como xocoatl, que foi a precursora do famoso chocolate. Na figura ao lado, uma representação do ritual de bebida do xocoatl. As sementes de cacau também eram utilizadas como moeda de troca.
Nas outras regiões do império o plantio era simples. Aliás, os dois pilares econômicos dos astecas eram a agricultura, em parte de subsistência, e o comércio. Mas o papel dos comerciantes e artesãos vamos falar aqui embaixo.
Organização social e política:
Havia o imperador, que também era o chefe do exército. Abaixo dele a sociedade era hierarquizada: sacerdotes e chefes militares compunham a elite da sociedade, seguidos pelos comerciantes e artesãos. Mais abaixo estavam os camponeses e os trabalhadores urbanos. Á excessão da elite, os astecas pagavam tributos ao imperador e podiam ser convocados a qualquer momento para trabalhos públicos – construção de pirâmides, canais de irrigação, estradas etc – , semelhantes ao sistema que era implantado na área do Crescente Fértil, por exemplo.
Os artesãos e comerciantes também exerciam um papel importante na sociedade. Enquanto uns produziam, outros eram responsáveis por transportar e vender as mercadorias em diversos pontos do império. Os comerciantes, por sua vez, por andarem pelas estradas do império, às vezes serviam como espiões do imperador, e eram isentos de impostos.
Havia também uma pequena classe de escravos, que nada mais eram que inimigos capturados em batalhas e que não eram mortos, mas serviam à administração militar e também auxiliavam nas obras públicas.
A religião e o conhecimento científico dos astecas:
Eram politeístas, adorando diversas divindades que, por vez tomavam formas humanas ou de fenômenos da natureza. Tinham o costume de realizar sacrifícios humanos para aplacar a ira dos deuses ou aumentar a produção agrícola. Acreditavam que o sangue humano deveria ser oferecido ao Sol, para que o mundo não parasse.
Apesar de apresentarem características religiosas normalmente classificadas como bárbaras, os astecas eram bem desenvolvidos cientificamente para a época. Tinham um calendário próprio e relativo conhecimento astronômico. Sua escrita era pictória, formada por desenhos que representavam a fala.
Na medicina – exercida pelos sacerdotes – apresentavam relativo conhecimento da anatomia humana e sabiam do efeito de diversas plantas usadas para cura. Havia também o estudo específico de determinada enfermidade, o que leva a crer que os sacerdotes eram especialistas em curar certas doenças. Sabemos disto pois nos sítios arqueológicos espalhados em várias cidades os arqueólogos encontraram representações específicas de tratamentos que eram realizados apenas naquele sítio aqueológico, não sendo mais observado em outros sítios.
O declínio do império asteca:
Como já foi citado, a chegada do espanhol Fernando Cortés – ou Hernán, ou Hernando, encontramos citações do conquistador com estas três grafias – dizimou quase que completamente o império asteca.
Além de matar pelo ouro, que existia em abundância entre os astecas, os espanhóis também espalharam – sem querer, claro – doenças que ajudaram a matar milhões de nativos. Com o tempo, ao lado das grandes cidades foram construídas outras, habitadas gradativamente por espanhóis – chamados de chapetones – e mais tarde os criollos – filhos de espanhóis nascidos na América. A Cidade do México é um bom exemplo desta ocupação: o sítio arqueológico de Tenochtitlán fica bem próxima da cidade, que com o tempo cresceu e ocupou todos os espaços em volta.
Hoje em dia só restam ruínas do povo asteca, que já foi um dos maiores povos a existir na América antes da chegada dos europeus.
As civilizações que se desenvolveram na América antes da chegada do colonizador europeu, as chamadas civilizações pré-colombianas, costumam exercer grande fascínio nos dias de hoje, atraindo o interesse do público e despertando a imaginação. Exemplo desse fascínio é o fato de essas civilizações continuarem servindo de inspiração para autores de diversas obras de ficção (filmes, livros, histórias em quadrinhos etc.).É o caso, por exemplo, do Império Asteca, geralmente associado a sacrifícios humanos feitos com o objetivo de satisfazer deuses sedentos de sangue. Essa sede por sangue que caracterizava os deuses cultuados pelos astecas inspirou até os cineastas Quentin Tarantino e Robert Rodriguez a realizarem o filme "Um Drink no Inferno", que conta a história de pessoas que são obrigadas a enfrentar vampiros num bar em algum lugar do México.
Numa das cenas finais do filme, quando os únicos sobreviventes do massacre promovido pelos vampiros saem do bar, vemos que o estabelecimento foi construído próximo ao local onde estavam as ruínas de um templo asteca, o que nos leva a concluir que, segundo o filme, os deuses astecas eram vampiros.
Além dos sacrifícios humanos, porém, há muitos outros aspectos interessantes da civilização asteca, que era muito mais complexa do que se imaginava. Nesta entrevista, o historiador Túlio Vilela responde a algumas perguntas que pretendem esclarecer dúvidas sobre esses habitantes do México, anteriores à chegada dos espanhóis.
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